As soluções finais, um livrinho sem compromisso
Tão sem compromisso é o livro quanto a afirmação de que o primeiro capítulo seria lançado nesta segunda-feira, 12 de março, aniversário de nascimento do autor.
Contagiado pelo desprendimento do autor e depois da releitura do prefácio que Zigelli escreveu com tanta generosidade e riqueza de detalhes, concluí pela seguinte ordem das coisas: você, nosso futuro leitor precisa estar prevenido para não se deixar contagiar com tanta franqueza e porque não dizer, rude fidelidade do autor. Prepare-se, pois caro leitor, aí vem chumbo grosso. Simule a necessidade de uns minutos de concentração e feche a porta do ambiente em que está o seu computador. Caso não seja possível, imprima o texto e tranque-se no banheiro, pois o autor inicia dando uma verdadeira aula “de como se escrever prólogos, prefácios, prolegômenos e afins, sem apelar para os obséquios prestadios ou Um prefácio sem badalação”.
Lá vaia bala:
“Este livro não tem a mínima pretensão de ser um livro. É, no máximo, um livrinho sem compromisso, leve e digestivo, nem melhor nem pior, nem crônica nem comentário”.
“Não tem nada de mais, mas em compensação também não tem nada de menos”.
“Não vai mudar coisíssima nenhuma e já me dou por muito bem pago e satisfeito se não provocar alguns bocejos de fastio ou sonolência”.
“Não deu nenhum trabalho”.
“Bastou reunir algumas cópias d um ano de trabalho (1968), botá-las em ordem e acabou-se. Nesse ano, aliás, era burgomestre do Paço o meu prezado amigo Acácio Garibaldi San Thiago, enquanto o bergantin do Estado era comandado pelo doutor Ivo Silveira, capitão de longo curso nas rotas da política. Convém assinalar, todavia, que qualquer referencia menos doce à tais administrações e qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, não passarão de meras coincidências. Foi em 1968 como poderia ter sido em 1958, 1960, 1964. É que o material de 1968 já estava todo datilografado, que os outros dezesseis anos de atividade jornalística estão registrados em gravações e manuscritos. Como se vê, uma escolha tecnicamente acertada”.
“Voltando ao livrinho, pensei inicialmente em submeter o meu projeto a um estudo de viabilidade econômica, temendo uma possível reversão de expectativas. Verificada, contudo, a minha capacidade de endividamento, cheguei a conclusão elementar: editado o livrinho, bem lançado num coquetel com noite de autógrafos e bem badalado pelos meus caros coleguinhas de rádio, jornal e TV, ele venderia bem uns trezentos exemplares. Com um cronograma bem planejado poderia chegar a quinhentos, quem sabe até seiscentos. Tive o cuidado especial de verificar os nomes citados e concluí que a capacidade de endividamento deles é muito maior do que a minha. Se até lista telefônica vira best-seller por aqui, quem sabe um livrinho bem cronogrametrado chegaria ao sucesso editorial”?
“E ele está aqui”.
“Se vender, muito que bem – como diria um vulto fugidio da minha infância joaçabense. Se não vender, azar. Não vou ficar nem mais pobre nem mais rico”.
“De sério mesmo, só a primeira página. A segunda dedicatória também, embora propositadamente vaga, que é para permitir uma possível – se necessária – retirada estratégica”.
“Não tenho nenhum agradecimento especial a fazer, muito pelo contrário. Ninguém me incentivou e nem mesmo houve insistência dos amigos para que reunisse alguns dos meus trabalhos”.
“Espero, assim, que todos virem a página devidamente preparados, sem muitas expectativas e esperanças”.
“De que faço questão é da presença das autoridades civis e militares no lançamento. E das eclesiásticas. E do povo em geral. Dispenso a banda. Aliás, ela deve estar ocupada”.
“Dito isso, leiam à vontade”.
“Pelo menos, não vão dizer depois que o livro tem muita cachacinha e pouca feijoada”.
“Fpolis/março de 1974. Adolfo Zigelli”.
Mais não disse e nem lhe foi perguntado. As crônicas/comentários são 22 e serão publicadas/publicados sem nenhum compromisso com a sequência em que aprecem no livro. Nada de ordem alfabética, preferência do editor, opinião do leitor ou subterfúgios que tais. Assim facilitamos nossas vidas por duas razões altamente estratégicas. A primeira é que o livro está esgotado e você não poderia conferir se estamos fazendo mistério ou querendo lhe influenciar. A segunda é que é mais chique dizer que a publicação obedece uma sequência randômica, combinado? Uma pista para amanhã? Que dia é amanhã? No sorteio deu 13 que corresponde ao enigmático título Topo – palavra que na sua simplicidade esconde profundos e insuspeitos vieses que só as mentes mais atentas e treinadas serão capaz de decodificar.
Radialista, jornalista, publicitário, professor e pesquisador é Mestre em Administração pela UDESC – Universidade do Estado de SC: para as áreas de marketing e comunicação mercadológica. Desde 1995 se dedica à pesquisa dos meios de comunicação em Santa Catarina. Criador, editor e primeiro presidente é conselheiro nato do Instituto Caros Ouvintes de Estudo e Pesquisa de Mídia.
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