A Estrela Dalva: seu drama pessoal, virou músicas inesquecíveis
No livro que acaba de ser publicado, Minhas Duas Estrelas, Pery Ribeiro narra a barra que foi a separação de seus pais Herivelto Martins, compositor, e Dalva de Oliveira, cantora rainha do Rádio em 1950.
Dalva, foi considerada nos anos 50 e 60, dona da mais perfeita técnica vocal da música brasileira – a nossa “Maria Callas”. Sem o desejar, é óbvio, seu drama pessoal é, de certa forma, precursor do fenômemo Reality Shows, exemplificado no Big Brother, líder de audiência na Televisão.
Dalva de Oliveira é uma legítima representante de uma época que se convencionou chamar de A Era de Ouro do Rádio Brasileiro que abarca, em especial as décadas de 40 e 50.
Dalva começou sua carreira em 1934, na Rádio Ipanema do Rio de Janeiro, mas a sua carreira deslancha mesmo a partir de seu casamento com o compositor e cantor Herivelto Martins em 1939.
Dalva, Herivelto e Nilo Chagas formavam o Trio de Ouro, um dos mais importantes conjuntos musicais da história da música popular brasileira – eles cantaram juntos até o ano de 1949.
Em 1950 começa sua carreira solo e, ao mesmo tempo, sua desdita conjugal. Os ciúmes de uma mulher fulgurante começaram um pouco antes e precipitaram um desquite não amigável (não havia divórcio na época).
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Minhas Duas Estrelas ISBN: 8525036102 |
A carreira solo vitoriosa de Dalva e cheia de brilho potencializou ressentimentos do parceiro conjugal. Algo que se agravou com outro fato: Dalva se casa em 1952 com Tito Clement. Para darmos uma mostra do sucesso da carreira solo de Dalva: ela personificou a primeira cantora brasileira a fazer sucesso na Europa onde, inclusive, chegou a gravar discos.
Acontecimento antológico em sua carreira: Elizabeth II, dois dias antes de sua coroação como Rainha da Inglaterra (2 de junho de 1953) foi ouvir a nossa “Maria Callas” no Teatro Savoy de Londres.
Mas, voltando ao cerne da questão, a separação conflituosa, ao lado de gerar um grande sofrimento para todos os diretamente envolvidos – Dalva, Herivelto e filhos Pery Ribeiro e Ubiratan Ribeiro, teve na mídia, em especial através das músicas inspiradas no drama do ex-casal, um componente novo e explosivo.
Em suma, a mídia da época, através do noticiário corrente e das músicas tocadas no rádio devassaram a vida privada dessas pessoas. E o público, sem dúvida, participava ativamente desse “Big Brother” embrionário, verdadeiro exercício de “Voyeurismo” sem imagens, mas alimentado por algo tão ou mais poderoso que é a imaginação, principal característica do radio – mídia dominante da época. E os caros ouvintes – fãs ou não, participavam e torciam ardorosamente para que um ou outro membro do ex-casal fosse para o “paredão”, como ocorre hoje no Brig Brother da TV, mídia dominante dos nossos dias.
Resumo da ópera, a meu ver: tanto o drama Dalva-Herivelto dos anos 50 como o Big Brother da Televisão de hoje só revelam uma coisa: o interesse inato e incontido do ser humano em espiar (voyeur) a intimidade das outras pessoas, as chamadas intimidades caseiras, o segredo que rola entre quatro paredes.
E o que já está ocorrendo nessa área em nossos dias em que a Internet vai se tornando, rapidamente, a mídia dominante?
A resposta é que a Internet está promovendo o casamento entre o exibicionismo e o voyeurismo – a fome com a vontade de comer…
Veja este depoimento, extraído do site: http://www.altiplano.com.br/Exib.html:
“Uma das mais expressivas manifestações que soma Internet, Webcams e Correio Eletrônico nos últimos tempos tem sido o perfeito e sonhado casamento do exibicionismo com o voyeurismo. São centenas de mulheres de toda as idades e perfis, que explícito ou escondidamente, realizam a fantasia de se exporem a desconhecidos ou conhecidos mesmo, através de câmeras conectadas à rede [Internet], normalmente instaladas em seus quartos, onde fazem streap-tease parcial ou total, se masturbam, ora fazem sexo e às vezes simplesmente tomam sorvete”.
Voltando ao rádio e à Dalva de Oliveira.
Selecionamos duas músicas do período crítico da separação de Dalva e Herivelto, cujas letras parecem retratos vivos do drama que ambos viviam.
Primeiro, a acusação de Herivelto na música Caminho Certo
(letra de Herivelto Martins e David Nasser):
Eu deixei o caminho certo
e a culpa foi dela
Transformava o lar na minha ausência
em qualquer coisa
abaixo da decência
A resposta de Dalva veio de forma contundente em É Calúnia
(letra de Marino Pinto e Paulo Soledade)
Quiseste ofuscar a minha fama
e até jogar-me na lama
Só porque eu vivo a brilhar
Sim, mostraste ser invejoso
Viraste até mentiroso
Só para caluniar
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Publicitário, nasceu em São Paulo e veio para Santa Catarina no final da década de 1970 para implantar e gerenciar o setor de comunicação e marketing da Cia Hering de Blumenau. Chico Socorro é consultor independente de comunicação e marketing para as áreas de licitações públicas e prospecção de novos negócios.
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