Aldo Gonzaga
Um ser humano especial, que poucos reconheceram como o grande artista que era. Deve ter sido por isso que foi embora tão cedo e tanta falta faz. Meu irmão, pelo menos, pensa assim.

Aldo Gonzaga, e …Silva, em pé. Sentados: Antunes Severo (E), Elizeth Cardoso, Rozendo Lima, Zininho, Neide Maria e Zuri Machado
Eu o conheci muito jovem, vestindo, ainda, a farda de soldado do exército, a que servia. Nas horas livres, tocava acordeom, o instrumento dos meninos da época, enquanto as meninas se dedicavam ao piano.
Mais tarde, encontrei-o já como músico profissional, ainda como acordeonista, acompanhando cantores, nos programas de auditório, na Rádio Diário da Manhã, ali na Praça XV. Depois sumiu por uns tempos. Reapareceu mais tarde com o mesmo talento, mas o instrumento já era outro – o piano.
Ficamos cada vez mais amigos, ao ponto de, cada vez que estava tocando na noite ou em clubes e que me via chegar, imediatamente tocava a minha música favorita – “Stella by StarLight”. Era uma espécie de senha carinhosa, para dizer aos amigos que eu chegara.
Nosso último encontro, durante algumas horas, foi quando d gravação do primeiro CD de Annita Hoepcke da Silva – “Canções do Coração”. É dessa noite de gravação, num estúdio, que guardo a nossa última foto juntos, também com Annita e Wagner Segura, outro grande artista.
Eu não estava no Brasil, quando ele nos deixou, mas ainda não para sempre. No filme da minha filmadora, ainda toca a minha música favorita, durante uma alegre reunião, no apartamento de Annita. E ainda olha inibido para a câmera, que se aproximava, para captar-lhe um big close.
Na noite de inauguração oficial do Santacatarina Country Clube chovia torrencialmente desde o começoda tarde. A grande atração da noite era Elizeth Cardoso, cujo show era aguardado com grande expectativa pelas centenas de pessoas que lotavam o salão de festas do Querência Palace Hotel, porque o Clube ainda estava nas obras finais.
“Mão de Vaca”, o extraordinário violonista que acompanhava Elizehte, recusou-se voltar ao avião, após a escala em Curitiba, em virtude da tempestade que se aproxi mava. Elizeth, profissional ao extremo, veio sozinha, que remédio.
Aqui, em Florianópolis, o Clube, desesperado, recorreu a mim, para que conseguisse um músico. Fui à casa de Aldo, que a princípio recusou-se a assumir tal responsabilidade, mas diante da minha insistê\ncia acabou cedendo.
No último número do show, Elizeth cantou a sua “pièce de resistence” – “Chão de Estrelas. No exato momento em que a letra diz: “esta dos nossos trapos coloridos, a mostrar que nos morros mal vestidos é sempre fferiado nacional”, Aldo tocou os acordes iniciais do Hino Nacional, fazendo com que a grande cantora olhasse admirada e o público explodisse em aplausos.
No final, enquanto nos despedíamos, ela perguntou-me: “- O que é que esse moço ainda está fazebdo aqui?! Já deveria estar em São Paulo ou Rio de Janeiro! Ele é formidável!”
Sinto tanta saudade e falta dele, que nossa última foto juntos está na parede do meu escritório, onde escrevo agora.
Nascido em 14 de abril de 1939 e residente de Florianópolis, Mauro Júlio Amorim é jornalista e escritor. Foi publicitário, radialista, locutor, teatrólogo e apresentador de TV. Cronista emérito, começou aos 18 anos e continua escrevendo e promete não parar enquanto a saúde permitir. Adora contar histórias saborosas dos amigos e de gente famosa. Atualmente trabalha na conclusão do terceiro livro e acaba de se integrar à equipe de cronistas voluntários do Instituto Caros Ouvintes.
Nunca esquecendo: a harmonia do Rancho de Amor a Ilha foi feita pelo grande maestro ALDO GONZAGA. Um dia falei no meu programa, o seguinte: Anônimo Veneziano é a mais linda melodia que já ouvi. No dia seguinte encontro o Aldo em frente ao Comasa e ele solicita que eu cantarole a música. No dia seguinte já estava incluída no repertório da Orquestra do Lira Tênis Clube. Minha sincera SAUDADE. soiza
Caro Amorim, sou neto do Aldo, condição qie sempre me encheu de orgulho. Porém, discreto que era, não tinha o hábito de nos saborear com
os detalhes dessas histórias. Me emocionei bastante com teu texto. Muito obrigado! Marco