ALERTA BRASIL
Provavelmente estou bem atrasada na minha observação e estupefação. Não percebi que agora a antiga Hora do Brasil desembocou em Atenção Brasil.
Por Anna Verônica Mautner
Mas isso não seria grave, uma vez que neste horário eu, urbana, cosmopolita, estou às voltas com tarefas profissionais ou domésticas, incluindo aí as novelas.
Em virtude dos quilômetros de congestionamento que assolaram São Paulo no começo de fevereiro – fiquei presa no trânsito. A apresentação moderna, agradável e comunicativa do atual formato desta herança da ditadura Vargas me fez nem perceber que ela estava no ar.
Parecia um programa de jornalismo, muito bem feito, aliás. Sem ainda ter me dado conta de que o que eu escutava com interesse era o que era, estranhei uma propaganda da própria emissora e, se não me engano, de alguma telefônica, Telecom, Telemar que seja. Não quis acreditar que a Hora do Brasil entrou na linha do PPP (parceria público-privada). Na TV Câmara, na TV Senado, ainda não vi publicidade.
Tenho que estar preparada. Um programa nacional, cuja razão de ser é chegar aos últimos grotões da Pátria, vender espaço? Confundir a Pátria com empresas privadas chocou minha inocência. Será que o minuto da Hora do Brasil é caro ou barato? Objetivamente importa pouco.
Simbolicamente é o esgarçar, diluir, empastar. O quê? O meu Berço Esplêndido, a minha Pátria Amada Idolatrada. Não posso mais idolatrá-la sem optar entre Vivo, Tim, Claro, Oi. A nossa mente, para ser parte da cidadania, clama, implora por alguma pureza. Não que eu tenha qualquer saudade da famigerada Hora do Brasil, mas, em havendo, que seja isenta.
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Anna Veronica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de “Cotidiano nas Entrelinhas” (ed. Ágora) e “Educação ou o quê?”
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