Anos de Ouro do Rádio**
Em todas as épocas, desde que se tornou um dos meios de comunicação de fácil acesso, o rádio tem sido usado como poderoso instrumento de dominação: econômica, política e religiosa. Foi assim na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini, no Brasil de Getúlio Vargas, na Argentina de Juan Domingos Peron e continua sendo assim em centenas de outras nações.
Sou grato pela distinção do convite e pela oportunidade de expor o pensamento defendido pelo Instituto Caros Ouvintes de Estudo e Pesquisa de Mídia que tenho a honra de presidir.
P – É fato que o Radio na sua “Era Dourada”, logo que foi socializado, tinha uma relação mais pessoal com os ouvintes em comparação a Radio de hoje. Osr. acha que essa relação deveria voltar a Radio, de um modo geral, nos dias de hoje? Porquê?
R – No caso do Brasil, a Era Dourada, os anos de Ouro do Rádio, ou Era do Rádio são designações que refletem o nível máximo do impacto provocado por esse meio de comunicação nos diferentes níveis da população do país nas décadas de 1940 e 1950. Até então, a grande maioria da população, cerca de 80% de analfabetos, para informar-se, além do contato entre familiares e amigos mais próximos, dependia dos mascates e outros viajantes ocasionais. Então o rádio surgiu como a grande janela, pois que falava a língua do povo. Portanto, o que está em jogo é o que cada parte espera da outra. E o rádio atual, em grande parte, deixa muito a desejar em relação ao que se espera dele. Virou um empreendimento comercial descomprometido das obrigações elementares de uma relação reciprocamente verdadeira.
P – Com a criação das radio-novelas, os ouvintes passaram a criar fortes laços aos artistas da época. Tais quais eram, muitas vezes, idolatrados pelo público. Porque o sr. acha que isso aconteceu?
R – O lado comercial da empresa de comunicação chamada rádio iniciou-se com o decreto de Getúlio Vargas, em 1932, liberando o uso dessa mídia para a propaganda como instrumento de persuasão das massas. Assim, veio o radio-entretenimento: os programas de auditório, as radionovelas, os programas humorísticos, as transmissões esportivas, as paparicações idólatras das colunas sociais, o proselitismo religioso e seus derivados. Notícia com autenticidade, valores culturais autóctones – folclore, hábitos e costumes das diferentes camadas sociais – enfim, a cultura da vida cotidiana, cada vez mais está sendo substituída por modismos extravagantes com fins predominantemente econômicos, religiosos e político-partidários. A idolatria parece ser algo inerente aos valores que nós, humanos, mais valorizamos…
P – O senhor acha que a popularização da rádio contribuiu para o amadurecimento político da população na época dos Anos de Ouro até hoje. Porquê?
R – Em todas as épocas, desde que se tornou um dos meios de comunicação de fácil acesso, o rádio tem sido usado como poderoso instrumento de dominação: econômica, política e religiosa. Foi assim na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini, no Brasil de Getúlio Vargas, na Argentina de Juan Domingos Peron e continua sendo assim em centenas de outras nações. Falar em amadurecimento político através do rádio é temerário num país que se diz democrático e mantém entulhos ditatoriais como: obrigatoriedade de transmissão da “Voz do Brasil”, “Serviço Militar” obrigatório e “Voto obrigatório”.
P – Qual a importância o sr. atribui a programação a “Voz do Brasil”, que nos anos dourados era chamada “A Hora do Brasil” e, em sua opinião, ainda é uma programação com grande audiência pela população brasileira?
R – Na atualidade é uma desnecessidade. Não pelo que informa, mas como informa. Está perdida sem saber a quem se dirigir.
P – O senhor concorda com o fato de que o cinema foi criado a partir da necessidade que o Radio deu aos seus ouvintes de não só ouvirem, mas a ter acesso visual a seus ídolos, tal qual fosse uma “extensão” do Radio? Porquê?
R -A complementaridade entre os diferentes canais de mídia é, sem dúvida, um fato positivo. Como no caso de tudo o mais na natureza, os meios de comunicação também sobrevivem e se desenvolvem na proporção direta de sua capacidade de se interrelacionar.
* Radialista, publicitário e professor pesquisador, Mestre em Administração pela UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. Presidente do Instituto Caros Ouvintes de Estudo e Pesquisa de Mídia. [www.carosouvintes.org.br | [email protected]]
** Questionário enviado pela estudante de Publicidade, Tamires Carvalho, da Universidade Veiga de Almeida do Rio de Janeiro, em 23/09/2015.
Radialista, jornalista, publicitário, professor e pesquisador é Mestre em Administração pela UDESC – Universidade do Estado de SC: para as áreas de marketing e comunicação mercadológica. Desde 1995 se dedica à pesquisa dos meios de comunicação em Santa Catarina. Criador, editor e primeiro presidente é conselheiro nato do Instituto Caros Ouvintes de Estudo e Pesquisa de Mídia.
Muito boa e oportuna a entrevista do Antunes.
Lia,
que saudade, amiga.
Grato pelo registro.
Bjo