BEBEU, ESQUECEU
1. “Chegou,
a Turma do Funil,
todo mundo bebe,
mas ninguém
dorme no ponto,
ha! ha!, ha!, ha!,
mas ninguém
dorme no ponto,
nós é que bebemos,
e eles que ficam tontos.”
Por Eloy Simões
2. Abriu os olhos, custou um pouco a reconhecer o próprio quarto. “Como ou vim parar aqui”, perguntou-se. Olhou o relógio, nove horas. “Nossa perdi a hora.” De um salto, ficou em pé. Examinou-se, viu que ainda estava com a roupa da véspera. “Puxa vida, o que será que aprontei ontem á noite”. Aí, reparou: só um pé estava calçado. “Ué, cadê meu sapato.” Aflito, vasculhou o quarto, virou tudo de cabeça pra baixo. Inutilmente.
Só foi encontrá-lo uma semana depois, no carro. Embaixo do câmbio.
Até hoje não sabe o que aconteceu naquela noite.
3. É claro que você sabe o nome do autor da marcha cujo trecho reproduzi no início deste papo. Mas aqui, entre nós: de quantos autores de que músicas você se lembra?
Não se envergonhe, se concluir que seu conhecimento sobre a música, principalmente a brasileira, é tão pequeno que não sabe o nome de quem compôs as músicas que fizeram e fazem história. Você não está sofrendo do mal do sujeito da história verídica que contei aqui, do sujeito que bebe e esquece. Por sinal, como muitas pessoas que conhecemos.
A culpa não é sua.
4. Infelizmente não se diz mais, no rádio, quem compôs a música que
tocou ou vai tocar. Às vezes não se diz sequer o nome da música. Nem as emissoras educativas prestam esse serviço. Deixa-se, assim, de fazer merecida homenagem. Pior: relega-se a um canto obscuro da história musical do país os maiores responsáveis pelos seus capítulos mais emocionantes.
Pecado mortal que envolve, inclusive, as gravadoras.
5. Lembro-me do tempo dos vinis: cada disco continha os nomes do cantor, da cantora ou da orquestra e dos autores. Citados também na capa.
No rádio acontecia a mesma coisa. Locutor ou locutora jamais se esquecia de dar nome aos bois. Resultado: qualquer um de nós sabia quem é quem.
6. Mas eu não perco a esperança. Quem sabe um dia desses acontece uma crise de bom senso. Talvez até impulsionada por sites como este.
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Começou no rádio, é jornalista, publicitário e professor universitário. Trabalhou em agências de propaganda de São Paulo, Rio de Janeiro, Carcas Santiago do Chile, Vitória e Florianópolis. Segue escrevendo em vários sites. É professor da UNISUL o Universidade do Sul de Santa Catarina na grande Florianópolis.
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