Cavaleiro das Eras no Capuchon 1980
Na semana seguinte, estimulados pelo desempenho no festival, marcamos uma data no Teatro do CIC para a realização do show, que demos o nome de “Cavaleiro das Eras”.
Com a “convocação” de nosso baterista pelo Neno, o João indicou um garotão, irmão de um batera que já tocara com ele, que morava em Biguaçú. Silvio era uma criança grande, humilde e inocente, que tocava vanerão nos clubezinhos do interior.
Apesar de quebrar dois a três pares de baqueta por ensaio ou show, era uma figura impar, sempre disposto, que levava muito a sério a profissão. Encaixou como uma luva. Como não tinha bateria própria, comprei uma “Panther”, que depois veio a ser a primeira bateria de meu filho Mark.
Ensaiávamos na casa do Aldo, num morro íngreme, e o maior trabalho era levar instrumentos e equipamentos para cima. Silvio, nessa hora, subia o morro com os amplificadores mais pesados como se estivesse brincando.
Como o repertório era pequeno, tomei a iniciativa de convidar um novo músico que veio do Rio e começava a tocar na cidade, Maurício Cavalheiro, para abrir o show; e este convidou o grupo “Olho D’Água” de Renato Botelho para acompanhá-lo. Surpreendentemente, tivemos um público acima da média para shows locais e com belas matérias jornalísticas.
Este Capuchon foi formado por Aldo (guitarra), João Carlos (baixo), Miro (teclados), Carlão (viola de 12), Silvio (bateria), Kachias (percussão) e eu na voz solo.
O repertório tinha, entre outras, “Cavaleiro das Eras” e “O Velho Sapiens” (Carlão), “Leila” (Aldo, João e Neno), “Raio da Manhã” (João e Neno), “Todo Dia Cedo” e “Fronteiras” (Aldo), “Rockilheu” e “Domínio” (Marcio), “O Manga” e “Auxílio” (Kachias e Nilo).
Pena que foi registrado apenas por um gravador minicassete e sem filmagens ou fotos, não restando nenhum outro registro.
Mas serviu como estimulante para a continuidade do grupo.
Visitamos Antonio Cabrera, grande produtor da RBS TV. Ao sermos anunciados, fizeram-nos esperar um bom tempo na antessala, quando começamos a tocar “Todo Dia Cedo”, pra ver se alertaríamos alguém de nossa presença. Qual foi nossa surpresa ao aparecer o produtor, com um largo sorriso, dizendo ter amado a música, e que nos incluiria em todos os shows promovidos pela filial da Globo, o que realmente veio a ocorrer.
Músico profissional na Ilha de Santa Catarina há 40 anos. É autor do livro Ilha de meu som que está sendo publicado em capítulos pelo site Caros Ouvintes sobre a música local a partir da década de 1960. Sonhador, luta contra a perda diária que sofre a identidade musical deste “pedacinho de terra perdido no mar”, como disse o poeta Zininho.
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