De corpos e negócios
Nunca vi ninguém fazer tanto negócio como se fazem negócios no Country Clube. É impressionante. Um amigo, um dia desses, montou duas lojas, vendeu o carro, comprou outro, alugou um escritório, ficou com um apartamento e decidiu-se por uma viagem a Europa. É bem verdade que no dia seguinte ele tinha uma vaga lembrança de ter conversado sobre automóveis, viagens e inversões imobiliárias. De resto, o único negócio importante que ele realmente fez foi mandar a empregada comprar um sonrisal na esquina. A viagem a Europa não passou de uma pescaria fraquíssima em Cacupé.
Outro dia o Caruso telefonou angustiado:
– Pelo amor de Deus, você esteve comigo no Country, ontem à noite, não esteve?
Ora, o Caruso é um sujeito sério, responsável e não ia fazer uma pergunta cuja resposta era óbvia. Tínhamos jantado juntos e no bar fomos responsáveis pela liquidação sumária de incontáveis doses de nacional legítimo, que estrangeiro já viu, né?
– Claro que estive – confirmei – e daí?
– Fale a verdade – implorou-me angustiadíssimo – Por acaso eu falei com alguém propondo casamento?
A esta altura quem estava preocupado era eu.
A atitude do meu amigo era incomum, fora de propósito. Fiz um esforço de memória e entre algumas nuvens e vapores lembrei-me de que vira o Caruso conversando com algumas estagiárias não sei de que, vindas não sei de onde e, por sinal, mais chatas que a fila da ponte. Mas garanti ao Caruso que não ouvirá uma palavra só sobre casamento e similares, embora não tivesse lá muita certeza da minha própria afirmação.
– Mas então, retrucou Caruso do outro lado d alinha, já mais aliviado, então o que é que esse bofe quer comigo?
Antes que eu perguntasse qual bofe, veio outra pergunta, também desconcertante:
– Escuta, e por acaso eu renunciei ao meu mandato de vereador?
– Não Caruso, só se foi naquela hora em que você foi lá fora.
– Então, faça-me um favor. Diga isso ao Nascimento, que estsá aqui e quer tomar posse de qualquer jeito.
É bom assinalar que Nascimento é suplente profissional e vive esperando a vez na Câmara.
Adolfo Zigelli. As soluções finais. Florianópolis: Editora Lunardelli, 1975. Esgotado.
Radialista, jornalista, publicitário, professor e pesquisador é Mestre em Administração pela UDESC – Universidade do Estado de SC: para as áreas de marketing e comunicação mercadológica. Desde 1995 se dedica à pesquisa dos meios de comunicação em Santa Catarina. Criador, editor e primeiro presidente é conselheiro nato do Instituto Caros Ouvintes de Estudo e Pesquisa de Mídia.
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