De ouvido
Grandes músicos que atuaram nos conjuntos regionais de nossas emissoras de rádio tocavam de orelha, ou de ouvido, como dizem outros. Jamais haviam estudado música, não liam partituras e nem identificavam as notas musicais nos instrumentos. E olha, havia alguns que eram verdadeiros mestres na arte da música. Conheciam um número muito grande de acordes, dominavam o ritmo com precisão, sabiam perfeitamente os tons e atendiam de imediato à solicitação dos cantores. Eram mestres no acompanhamento e alguns eram grandes solistas.
Muitas vezes acontecia de algum cantor resolver apresentar uma música que não havia ensaiado e, por engano, pedir que o acompanhassem em determinado tom que não era adequado. Nessas ocasiões, os componentes do Regional mudavam o tom ao entrar na segunda parte da música, evitando um fracasso e salvando o cantor de uma situação desagradável. Tudo de ouvido.
A maioria era autodidata, aprendera a tocar sem ninguém ensinar, só observando os outros músicos.
Certa vez, em meados dos anos 60, a soprano Claudete Rufino perguntou ao Janguito do Rosário por que ele não dava aulas de música e ouviu em resposta:
– Claudete, não posso, porque não sei ler partituras. Aprendi tudo de ouvido.
E era verdade. Assim acontecia com grande parte dos violonistas, cavaquinistas e demais membros dos conjuntos regionais. Apesar disso, eles eram tão competentes que eram efusivamente elogiados pelos cantores de outros Estados que vinham atuar em Curitiba e eram por eles acompanhados. Eles davam total segurança aos cantores.
A música é um dom divino.
Janguito do Rosário
Radialista, publicitário e escritor começou sua carreira profissional na Rádio Marumby fazendo locução e apresentação de programas de estúdio e auditório. Na Rádio Clube Paranaense chegou à direção geral. Dedica-se atualmente à agência Santa Lúcia Propaganda da qual é sócio-fundador desde 1968.
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