Lotação (baseado em fato real)
Quando entraram no ônibus já não havia lugares vagos, de modo que o jeito foi acomodar-se pelo corredor apinhado de gente enfrentando as arrancadas e as freadas bruscas a cada parada do coletivo. A sobrinha ainda quis interpelar alguém para que cedesse o lugar à tia idosa, mas ela não permitiu, conformada com a falta de gentileza das pessoas. Os passageiros seguravam-se do jeito que podiam, os mais altos valendo-se dos pegadores superiores, os mais baixos, como elas, agarrando-se aos pegadores dos bancos. Uma multidão de braços e mãos disputando espaço nos canos ensebados do ônibus.
De repente a jovem puxou a campainha e disse: “_ Vem tia, vamos saltar…”.
Ao que a senhora respondeu: “Ô Cêma! Eu quero tirar o meu braço daqui, mas não sei qual é…”
* Baseado no relato da D. Iracema, a tia Iracema, mãe da Leila, minha amiga de infância.
Por Norma Bruno
Do livro Cenas Urbanas e Outras Nem Tanto. Bernúncia Editora. 2012
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