Mídia Ninja é forma de comunicar
Claiton Selistre
Um smartphone, um notebook, uma bateria e um carrinho de supermercado para transportar tudo. Está montada a reportagem da Mídia Ninja, pilotada por jovens que desde junho acompanham o movimento de reivindicações mostrando o ponto de vista dos seus integrantes.
São longas intervenções, tecnicamente primárias – sem enquadramento e iluminação adequadas. Mas, com o poder de mostrar o interior, onde a imprensa tradicional não entra.
Desde então abriu-se a discussão se o que ela faz pode ser considerada jornalismo. Seus líderes foram entrevistados no Roda Viva, da TV Cultura, pregando o autofinaciamento das “operações” e processo pluralista de decisão editorial.
O contraponto da Grande Imprensa, no caso a Veja de 14 de agosto, foi mostrar que na origem da liderança tem dinheiro da Petrobrás e da Vale, para sustentar casas da comunidade Fora do Eixo, onde vivem alguns voluntários da Ninja. Se confirmado, trata-se de uma mídia “revolucionária” remunerada indiretamente.
A verdade é que ela nasceu por causa do movimento do povo brasileiro, a massa que saiu às ruas para ser ouvida. A Ninja é forma de comunicação desse momento. Por isso, só irá sobreviver enquanto a movimentação existir. Depois, ou se profissionaliza ou se extingue. Se profissionalizar, deixa de ser alternativa.
Para acompanha-la, via internet, é preciso abrir e mão do princípio maior da informação, as versões contraditórias. Não é isso que ela faz. Se dependesse da Ninja não saberíamos que aqueles jovens de preto e de máscaras, que quebram propriedades, fazem parte de uma ação anarquista importada, que, agindo assim, pensam ferir o capitalismo.
A Ninja não faz jornalismo, porque não mostra o outro lado, mas se comunica, num espaço em branco que lhe foi deixado. Pelo governo sem rumo definido, pelos políticos corruptos e por parte da imprensa que perdeu o apelo popular.
Claiton Selistre, jornalista | MakingOf
Radialista, jornalista, publicitário, professor e pesquisador é Mestre em Administração pela UDESC – Universidade do Estado de SC: para as áreas de marketing e comunicação mercadológica. Desde 1995 se dedica à pesquisa dos meios de comunicação em Santa Catarina. Criador, editor e primeiro presidente é conselheiro nato do Instituto Caros Ouvintes de Estudo e Pesquisa de Mídia.
A grande imprensa é que não faz jornalismo e só perdeu apelo popular, como você mesmo diz, porque mostra somente um lado e não é o popular. A diferença, é que a grande mídia ainda acha que faz jornalismo, coitada.