O petróleo é nosso, mas de quem é a Petrobrás?
Dezenas manifestações convergem para uma sentença: a necessidade mundial de petróleo como fonte de energia intensifica-se com a primeira guerra mundial, quando o carvão é substituído pelo petróleo nas esquadras e pela popularização do automóvel.
Entre nós brasileiros a história do “ouro negro” é belíssima. O petróleo está no centro da vida politica e entre personagens salientes (além de Getúlio Vargas e a UNE, claro) encontra-se um dos maiores escritores brasileiros, Monteiro Lobato defensor do monopólio estatal. Entre suas sacadas célebres (“um país se faz com homens e livros”) há uma manifestação emblemática sobre o tema:
O petróleo é o sangue da terra;
É a alma da indústria moderna;
É a eficiência do poder militar;
É a soberania; é a dominação.
Tê-lo é ter o sésamo abridor de todas as portas.
Não tê-lo é ser escravo.
Ao rever a questão do petróleo que voltou á baila fazendo ferver a campanha presidencial, me dei conta que minha geração também é tisnada pelo “outro preto”. Os subversivos, ou resistentes, ou combatentes, ou idealistas, ou revolucionários – o rótulo não importa – das lutas das ruas contra a ditadura atualizaram suas demandas, mas tinham entre suas bandeiras o petróleo e chegam ao PODER. Ah, nunca esquecerei, a UNE estava lá, aguerrida, firme, corajosa. Sim, a UNE estava lá.
Anotem: valeu a pena toda a resistência contra a opressão, a tortura, as mortes, o exilio, as perseguições, contra a barbárie, um novo Brasil começaria a ser construído! Fantástico, o cara da luta da rua chega ao poder, popularmente rotulado de “esquerda”, com a maior missão da história do Brasil desde o descobrimento tendo o povo aquela sensação de alma lavada: levar ao centro decisório, ou seja, Brasília, a honestidade, a ética, a virtude, a eficiência, a decência, a liberdade, em síntese todos os princípios republicanos que garantem a instauração da civilização no lugar da barbárie.
Imaginávamos que assim seria, o Brasil deixaria de ser republiqueta de banana, deixaria de choramingar contra nações desenvolvidas, abandoaria o oportunismo do coitadismo que culpa os outros por nossas falhas, fraquezas e bobagens e, finalmente faria o dever de casa. Nós, da UNE, acreditávamos piamente nisso?
É fácil avaliar o que isso significava por quem esteve na luta contra o arbítrio!
É o tempo passa, o tempo voa e o cara de “esquerda” já está no poder há mais de vinte anos se somarmos os períodos de todos os combatentes das ruas que chegaram à presidência: Itamar, FHC, Lula e Dilma. Notaram: o cara de “esquerda”, aquele das ruas, mandou a “direita” para o beleléu e, com o apoio do povo, vem governando Brasil há mais de vinte anos. Lindo! Lindo?
Pois é, no contexto em que a CORRUPÇÃO esmaga a esperança do novo Brasil e que parece não ter fim com o escândalo na Petrobrás (antes mensalão e privataria) é de perguntar: o que a esquerda que governa o Brasil há vinte anos fez com a honestidade, a ética, a virtude, a eficiência, a decência, a liberdade, em síntese todos os princípios republicanos que garantem a instauração da civilização no lugar da barbárie.
Ah, sim, o petróleo é nosso, mas de quem é a Petrobrás? O que ocorre nela e tudo mais não caracteriza traição aos que foram às ruas nos anos de chumbo? Outra coisa, onde está a UNE, o que foi feita da UNE? A UNE também “endireitou”?
Jornalista e radialista. Natural de Barra Funda/Sarandi-RS. Reside em Passo Fundo, onde já foi secretário de Meio Ambiente e de Cultura. Atuou na Cia. Jornalística Caldas Junior por dez anos, foi chefe de redação e diretor de O Nacional, mantém coluna no jornal Diário da Manhã e programa sobre ecologia na Rádio Uirapuru de Passo Fundo.
Deixe uma resposta
Gostaria de deixar um comentário?Contribua!