O “Plantão das Multidões”: Antônio Augusto
Domingo de Páscoa, 05 de abril.
Ligo o rádio em OM bem cedo, todos os dias: na madrugada, vitimado por um AVC, o radialista Antônio Augusto, 77 anos, saíra das Ondas Médias para entrar no Broadcasting Astral.
Totonho, como era chamado pelos colegas, firmou a figura do plantão esportivo no rádio brasileiro e criou uma marca inesquecível nas jornadas esportivas, a intervenção durante os jogos de futebol: “Tem gol!” E o narrador, comentarista ou repórter perguntava “Onde Antônio Augusto?”
Antônio Augusto dos Santos nasceu em Marcelino Ramos, cidade no Noroeste do Rio Grande do Sul, à beira do Rio Uruguai e na divisa com o Estado de Santa Catarina. Iniciou a carreira de radialista na própria cidade e, em 1960, veio para a Rádio Difusora, atual Bandeirantes, Porto Alegre. Naquela época ele assentou os padrões da atividade de plantão de esportes, como aquele profissional que acompanha muitos jogos permanecendo no estúdio.
Após um período na Rádio Farroupilha, na época integrante dos Diários e Emissoras Associados, ingressou na Rádio Guaíba, onde permaneceu por 20 anos. Nestas duas décadas, sua voz impregnava as intervenções com os fatos importantes que ocorriam no mundo da bola.
Durante estes anos, Antônio Augusto compilou uma verdadeira “enciclopédia de números e dados” sobre o futebol. Durante a minha breve passagem na Rádio Difusora de Bento Gonçalves – hoje Rádio Viva – lembro das menções que todos os colegas, interioranos ou da capital, fazíamos acerca dos famosos “cadernos do Antônio Augusto”, que eram ditos jamais ficarem muito à mostra, sempre grudados nele…
Necessário lembrar que nestes anos idos, as ligações de telefones fixos com DDD ainda eram novidade. Não se cogitava, nem na imaginação mais pródiga, telefones celulares e a Internet. Desta forma, o “Totonho” transcrevia à mão os placares, times, goleadores, datas, enfim uma parafernália de números e datas para os seus cadernos, dados precisos que ele apresentava em formas de estatísticas e porcentuais muito bem calculados antes da transmissão do jogo ou no inesquecível espaço “E a bola parou”.
Durante as jornadas esportivas, o trabalho de informação sobre o andamento dos demais jogos era obtido pelo tradicional “rádio escuta” em OM e em ondas curtas. A tarefa era realizada pelo próprio plantão ou por outro radialista que lhe repassava as notícias. Muitos devem recordar que, por vezes, o Antônio Augusto punha a própria irradiação da rádio nacional ou estrangeira no ar, através de um “possante” Philco Transglobe.
Amigo dos seus ouvintes, algumas vezes nos encontrávamos na Avenida Borges de Medeiros, onde ele esperava na fila do ônibus. Ele me contava o que, através do rádio, ninguém saberia. Inobstante, um espírito forte e por vezes rebelde o fizeram sair da Rádio Guaíba, sobre o que ele me afirmou ter se originado numa discussão com o então chefe de esportes.
Foi para a Rádio Gaúcha e não muito depois, retornou à Guaíba, que trocara de dono desde a quebra da Cia. Jornalística Caldas Júnior. No dia em que ele fez a sua reestreia na emissora onde se notabilizou, eu fui ao estúdio. Por volta das 10 horas da noite, o Lasier Martins fez uma introdução e o Antônio Augusto entrou no ar. Vendo-me como a única pessoa estranha à rádio e do lado de fora do “aquário”, o Lasier me chamou e pediu que dissesse algo. O inusitado convite me permitiu apenas declarar a felicidade em ver o retorno daquela figura consagrada no rádio brasileiro e na emissora a qual, na época, eu ouvia em caráter exclusivo.
Em 1999, o Totonho foi para a sua derradeira frequência, a Rádio Pampa, onde reiniciou à noite o seu “Plantão das Multidões”, já com o declarado amor pelo Grêmio Football Porto-Alegrense.
Há o óbvio sentimento da ausência, que já o era para o Rádio, desde que, segundo o radialista Darcy Filho, Antônio Augusto fora demitido da Pampa. Perdia o rádio e como muitos que já partiram, sem substituição nem aproximada… O professor Luiz Artur Ferraretto escreveu excelentes comentários sobre a passagem do Antônio Augusto na história do rádio gaúcho. Alguns dados serviram a esta crônica. Comentei com ele: “Lastima-se a perda e a lacuna que estas “figuras do rádio” provocam. Daqui a 20 ou 30 anos, quando morrer um profissional do rádio, alguém irá saber?”
Criador de muitas frases no rádio, Antônio Augusto deixa-nos aquela que sempre encerrava os seus programas “Estamos indo embora”.
Nascido em Porto Alegre/RS. Graduado em Engenharia Civil e em Direito, pela UFRGS. Pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho pela PUC/RS. Foi Coordenador Nacional e Regional da Inspeção do Trabalho Portuário e Aquaviário e representou o Brasil na OIT em Genebra e pela OEA, em Buenos Aires. Em 1998 iniciou a coleção de rádios valvulados, hoje representada por 193 receptores originais e por ele restaurados e que podem ser vistos parcialmente em www.museudoradio.com ou no próprio Museu do Rádio em Porto Alegre.
Gostava muito do Antônio Augusto. Que Deus o tenha em um bom lugar.