Olha o rádio à pilha gente fina
Florianópolis, domingo, dia 10 de junho, uma data marcante. Com minha filha Gabriela fui ao encontro do Estádio de Futebol Orlando Scarpelli e dos rádios à pilha que lá estavam coladinhos aos ouvidos dos torcedores dispostos a tudo: a jogar o aparelho no gramado, bem como roer unhas e xingar adivinha quem? O árbitro, é claro.
Por Ricardo MedeirosJá havia dito para a Gabi por diversas vezes que um dia iríamos juntos ao estádio. Só que nunca dava certo. No meio da semana é impossível. Eu dou aulas à noite e ela tem que acordar cedinho no outro dia para ir à escola. Mas no domingo não. Estava tudo certo. Tínhamos camisa do nosso time: Figueirense. Tínhamos até bandeira, que por um vacilo foi esquecida em casa.
Após um churrasco na casa de um colega, no Canto da Lagoa, seguimos para o Orlando Scarpelli por volta das 14h50. A mão da minha filhota suava. Ela estava ansiosa em chegar no templo do futebol. Logo perto do estádio, nos deparamos com a venda de rádios portáteis. “Baratinho, baratinho, só 10 reais aí, gente fina”, gritavam os ambulantes. Não comprei um, mas da próxima vez quem sabe.
Sentamos no setor C do estádio, onde tínhamos uma boa visão do campo. Compramos pipoca, amendoim e água mineral. O jogo começou. Ah, era Figueirense contra uma outra paixão de pai e de filha: o Flamengo.
Mesmo com a derrota para o Fluminense na quarta-feira, dia 6 de junho, pela final da Copa do Brasil, o alvinegro não entregou os pontos. Foi para cima do mengão e fez 1, 2, 3 e 4 a zero. A cada gol, levantávamos e vibrávamos. Era um abraço, era um beijo. Estava contente pelo Figueirense, por mim, pela minha filha que ìa ao campo pela primeira vez.
Os rádios à pilha continuavam juntos aos ouvidos dos torcedores que queriam acompanhar pelos narradores das rádios Guarujá, CBN Diário ou Band FM todos os detalhes da partida. Volte e meia, esses mesmos torcedores, ao não gostarem de determinada marcação do juiz, lançavam-lhe alguns impropérios. Um dos xingamentos fazia tempo que não ouvia: “Sai daí maricão”.
Doutor em Rádio pelo Departamento de História da Université du Maine (Le Mans, França). Radialista, jornalista, escritor e professor de rádio do curso de Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina e assessor de imprensa da Prefeitura de Florianópolis. É um dos fundadores do Instituto Caros Ouvintes.
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