Perigos da fala
“Colocamos freios na boca dos cavalos para que nos obedeçam… guiamos seu corpo… Basta uma chama muito pequena para incendiar toda uma floresta. A língua é uma parte pequena do corpo, mas se gaba de grandes coisas. A língua também é um fogo”. Tiago 3: 3 – 6. Bíblia.
Há também essa antiga frase/reflexão: “Somos senhores do nosso silêncio e escravos das nossas palavras”.
Vivemos em tempos onde o falar ou o que falar precisa ser altamente avaliado, caso contrário podemos nos tornar “escravos ou prisioneiros” do que falamos. E isso pode significar sermos vítimas de violência física ou de sermos processados pelo que foi dito.
Por um lado há vantagens, maior proteção a integridade dos outros e da nossa, logicamente. Já por outro lado chegamos a um tempo onde quando vamos abrir a boca, a consciência nos diz: “Tudo o que você disser poderá e será usado contra você no tribunal”. No “tribunal” dos julgamentos dos amigos, familiares e desconhecidos. A pena vai de uma amizade perdida, a um afastamento súbito e até mesmo a real prisão e pagamento de indenizações. Feliz daquele que pouco fala e maior risco para os que falam muito, ou por serem pessoas que gostam de falar e os que trabalham na comunicação, falada ou escrita.
“Quando as palavras são muitas, a transgressão é inevitável, mas quem controla a língua age com prudência”. Provérbios 10:19. Bíblia.
Um jornalista que fala sobre um homem que matou a esposa na frente dos filhos que entendem o crime cometido e cujo o pai se entrega à polícia, por exemplo, não pode chamar tal homem de criminoso, corre o risco de ser processado, por quê? Porque ele, embora tenha se entregado e confessado e mais o testemunho dos filhos, ainda não foi julgado; até lá pode mudar seu depoimento; então ele é suspeito. Ai de quem chamá-lo de assassino antes de o juiz bater o martelo, devidamente julgado e condenado.
Há também os educados e sensíveis cuidados que protegem, que ajudam a não humilhar. Mas há também uma turma de chatos, pessoas que levam ao pé da letra o – politicamente correto. Para esses se ocorrerem tais falas é um crime grave, lá vai…
“Estou falando daquele negão que trabalhava na…” “Mulher no volante, perigo constante”. “Atirei o pau no gato…”. “Homem não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo”. Isso pode até se misturar aos eufemismos: “Você faltou com a verdade (mentiroso)”. “Ele está obeso (gordo?)”.
Enfim, se por um lado deve existir o cuidado com o que falamos e até leis para punir racismo, por exemplo, há também os exageros; há chatos de plantão; procuram chifre em cabeça de cavalo para chamar a atenção. Para alguns até mesmo tirar leite da vaca é uma judiaria; brincar com crianças pobres e não adotá-las é uma crueldade. Todos nós, sem exceção, deveríamos olhar no espelho, tanto aquele que reflete nossa imagem quanto o – espelho da autoavaliação. Esse último exige bem mais coragem; tem que ser macho, mulher, humano de verdade para nos encarar, obviamente de frente, não se encara de costas, e então, concentrados e honestos consigo e talvez com a opinião de um verdadeiro amigo (para os que têm, não são todos que têm essa benção, amigos de verdade) avaliar e rever conceitos, não dos outros, nossos. Enumerar nossos pontos positivos e também os negativos. Depois, o mais importante, trabalhar duro para mudar, evoluir, nos tornar melhores; não melhores do que os outros, melhores do que éramos ontem.
Aprender a controlar melhor a nossa língua para ajudar e não ofender, inclusive para não ficar – procurando chifres em cabeça de cavalo e não encher o saco dos outros à toa.
Dirigimos um potente carro, uma empresa, até controlamos um forte cavalo, mas nossa língua ainda causa “incêndios” por falta de controle. Sem essa – frescura de dizer: “Sou assim mesmo, é o meu jeito, preciso falar o que penso”. Então se prepare para ouvir o que os outros pensam a teu respeito, sem choradeira.
Falei demais. Já corri por hoje o risco de perder leitores, receber críticas e sabe lá o que mais. Há um grande espelho bem à minha direita, vou levantar-me e olhar atentamente. Depois vou ao outro espelho; até imagino o que me espera. Possíveis verdades que vão doer, mas vou dar uma de forte. Prefiro arriscar. Já falei muito mesmo.
Deivison Hoinascki Pereira. Professor, jornalista, colunista do Portal Instituto Caros Ouvintes e jornais Em Foco. Escritor. Produziu e apresentou o programa de rádio – Na cadeira do barbeiro – entre 2013 e 2015. As entrevistas com mais de 40 comunicadores da nossa região estão disponíveis no Portal Caros Ouvintes.
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