TV Catarina apresenta: Francisco Mascarenhas
“Ólhó, lhó! Tais veno! É qui nem fita de cinema! É piquininim assim pruquê é de grátis, não tem?” Embora hoje possa parecer caricatura, a frase está em rigoroso “manezês” e faz parte da história da TV em Santa Catarina.
As primeiras imagens de TV em Santa Catarina foram exibidas em Florianópolis, em fins de 1955 ou início de 1956. Embora os entrevistados não tenham chegado a um acordo com relação a data, o evento é confirmado em depoimento ao Instituto Caros Ouvintes por vários profissionais que atuavam na emissora à época. Entre eles, Augusto Borges de Mello, operador de som e auxiliar técnico, e os locutores Carminatti Júnior, Iran Manfredo Nunes e Fernando Linhares da Silva.
A iniciativa de Francisco Mascarenhas, diretor da Rádio Diário da Manhã contou como empréstimo de equipamentos e assistência técnica de uma das emissoras de São Paulo – Tupi ou Record. A demonstração foi gerada durante a transmissão de um programa de auditório e exibida nos monitores instalados na marquise do prédio sede da emissora, na praça XV de Novembro. “O programa contou com a participação de Francisco Mascarenhas e dos locutores Nívea Marques Nunes, Humberto Mendonça, Iran Manfredo Nunes e Carminatti Júnior”, confirma Fernando Linhares da Silva.
A repercussão foi imediata entre ouvintes que queriam saber de detalhes e do público que se aglomerou na praça naquela noite. A demonstração foi o assunto da cidade por mais de uma semana e serviu como estopim para estimular a caça às imagens fortuitas que entre chuviscos e chiados, eram captadas pelos tele-maníacos da época.
Sabendo da existência de emissoras de TV em Curitiba e Porto Alegre, o catarinense não se conforma com o seu jejum televisivo. Com imensas antenas nos telhados e até nos morros vizinhos, a busca, entretanto, mal resultava na sintonia, geralmente por poucos minutos, dos sinais de emissoras da Argentina, do Rio de Janeiro e até de Pernambuco. Ninguém desistia, porém.
A constante tentativa de capturar sinais de transmissões televisivas, além de desenvolver tecnologias de captação de sinais de origens incertas e não sabidas, criou vasto repertório de piadas e de casos jocosos. O irreverente espírito ilhéu deitou e rolou fazendo a alegria da galera e também levando o desalento aos renitentes “caçadores de fantasmas”, como ficaram conhecidos os possuidores de aparelhos de TV no período de 1957 a 1963.
Um episódio tico da época foi registrado por Maristela Amorim no seu Projeto Experimenta de conclusão do Curso de Comunicação – Habilitação Jornalismo da UFSC.
“Aloísio Ribeiro, telegrafista dos Correios e Telégrafos no início dos anos 60, foi um dos primeiros a possuir aparelho de televisão em Florianópolis. Sobre esse tempo. (…) Conta que ‘uma noite, já de madrugada, nós estávamos jogando e TV, do lado, ligada. Nunca se pegava nada, mas ela ficava sempre ligada. De repente ouvimos alguma coisa e, surpresos, acabamos assistindo um filme brasileiro O Assalto ao Trem Pagador. O interessante é que ele estava sendo rodado com legendas em espanhol, as vozes, é claro, em português. No dia seguinte soubemos que isso foi possível porque uma emissora de Porto Alegre, ao sair do ar, captou a freqüência de uma estação do Uruguai e lançou adiante. Nós, acidentalmente, recebemos as imagens e fizemos bom proveito do pressente”.
Assim os caçadores aumentavam e ao mesmo tempo a pressão crescia. Desse amálgama surge a idéia da criação de uma entidade capaz de encontrar soluções de interesse comum. O movimento se organizar foi apenas uma questão de tempo. Em 1963 surge a Sociedade Pró-Desenvlvimento da Televisão de Florianópolis. Objetivo: trazer os sinais das emissoras de Porto Alegre para a Capital catarinense.
Na próxima semana: dois movimentos simultâneos e paralelos entre si.
Radialista, jornalista, publicitário, professor e pesquisador é Mestre em Administração pela UDESC – Universidade do Estado de SC: para as áreas de marketing e comunicação mercadológica. Desde 1995 se dedica à pesquisa dos meios de comunicação em Santa Catarina. Criador, editor e primeiro presidente é conselheiro nato do Instituto Caros Ouvintes de Estudo e Pesquisa de Mídia.
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