Uma palavra de despedida, apenas: adeus
Com as mãos trêmulas em seus cabelos curtos, mal tratados, diz a custo:
– Pena que não haverá o “talvez, um dia…”. Sua imagem ficou lá atrás, na escada onde juntos estavam. Ali, a encruzilhada. Alguém que ficou precisa desse retorno; essa mãe-menina precisa de paz e de outro amor qualquer dia…
O menino precisa de carinho efetivo, constante, e ele precisa ser homem pelo menos uma vez na vida, mesmo que seja pela última vez. Sua mente, um burburinho de atos e fatos incompreensíveis. A garoa, a noite e ele…
– Adeus, presente e futuro… Passado, espere um pouco mais. Eu estou voltando! Você, passado, ainda será o mesmo? Você está esperando eu voltar…
Eu vou indo sem saber o que vai acontecer.
No céu nenhuma cintilação de estrelas conhecidas. Só a garoa, minha companheira, quando minha vida marca meia-noite…
Alguém me segue. O fantasma da morte, talvez…
O espectro faminto de almas vencendo a corrida… Noite, és cúmplice dos acontecimentos e choras, como eu? Por que choras, se estou voltando porque quero voltar…? Por que choras, noite, se este é o único caminho de quem não pode mais deixar de lado suas obrigações? Não chores, noite.
Vês? Eu parei de chorar. Sou apenas um fantasma antigo do jovem que fui. Tu te lembras…? A bruma não era, para mim, densa nem impenetrável…
Estou perto de casa, noite. É hora de dizer adeus.
Radialista desde quando estreou ao microfone da Rádio Clube de Paraguaçu Paulista, na década de 1950. Trabalhou nas principais emissoras de Rádio do Paraná e Santa Catarina atuando na locução, produção e direção artística. Tem dezenas de livros publicados sobre rádio e jornalismo. Atualmente se dedica a ações filantrópicas.
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